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Socióloga brasileira afirma que as igrejas preferem que mulheres morram a verem o aborto legalizado

A socióloga e ex-senadora Eva Blay, 74 anos, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que as igrejas se posicionam contrárias à flexibilização da lei do aborto por razões políticas. A indicação de Eleonora Menicucci para a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres reacendeu a discussão em torno do aborto, que havia pautado o segundo turno das eleições presidenciais em 2010 e que há anos é discutido no país, por diversos setores da sociedade.
Blay entende que a postura conservadora das igrejas demonstra intenção de “punir a sexualidade feminina” e que os líderes cristãos “preferem a morte das mulheres” a aceitar a legalização do aborto, em referência à consequência de casos extremos, em que a mãe acaba falecendo por não ter extraído o feto.
Quando ocupou o cargo de senadora, função que assumiu quando o então senador Fernando Henrique Cardoso se licenciou para ocupar o Ministério da Fazenda, no mandato do ex-presidente Itamar Franco, Eva Blay apresentou um projeto de lei descriminalizando o aborto, que acabou engavetado por enfrentar duras críticas da opinião pública e de líderes religiosos.
Para ela, a iniciativa do senado de criar uma comissão com participação de juristas, para estudar a flexibilização da atual legislação que rege o tema, foi correta: “As propostas são sensíveis e respeitam os direitos das mulheres”, afirma Eva Blay.
Sobre Eleonora Menicucci, Blay acredita que a reação dos evangélicos à nomeação da ministra pró-aborto foi um sinal positivo: “Eleonora reúne competência profissional, visão feminista, atestada em suas obras na universidade e nos movimentos sociais. A reação conservadora a Eleonora revela que ela significa um passo à frente”.
Confira abaixo a íntegra da entrevista de Eva Blay ao jornal Folha de S. Paulo:
Qual sua opinião sobre a comissão do Senado que sugeriu flexibilizar a legislação sobre o aborto?
Achei muito importante a iniciativa do Senado de criar uma comissão de juristas para tratar de várias questões, inclusive da interrupção da gravidez. As propostas são sensíveis e respeitam os direitos das mulheres.
Países como Portugal e Itália, onde a religião é forte, legalizaram o aborto. Por que esse tema é tão difícil no Brasil?
A resistência da parte de algumas igrejas tem no fundo um teor político. Isto é, intervém sobre o voto eleitoral que elas procuram conduzir. Essas igrejas preferem a morte das mulheres, uma forma de punir a sexualidade feminina.
Curioso que nada é dito sobre os homens, que, aliás, são tão responsáveis quanto as mulheres pela gravidez.
Como avalia o governo Dilma?
Eleger uma mulher no Brasil para a Presidência foi um grande passo. Mas não bastaria apenas ser mulher. Dilma está fazendo um excelente governo no campo dos direitos sexuais e reprodutivos.
Nomeou mulheres competentes para cargos ministeriais importantes, com isso traçou um novo paradigma no processo de igualdade de oportunidades para homens e mulheres.
A nomeação da ministra Eleonora Menicucci gerou reações entre os evangélicos.
Nomeá-la para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres foi excelente. Eleonora reúne competência profissional, visão feminista, atestada em suas obras na universidade e nos movimentos sociais. A reação conservadora a Eleonora revela que ela significa um passo à frente.
Onde houve mais avanços nos direitos das mulheres?
Avançamos muito, com ou sem a ajuda dos partidos políticos. Nosso maior problema ainda é a violência contra a mulher de todas as idades.
Só vamos superar esse problema quando, juntamente com os homens, mudarmos os valores patriarcais ainda em vigor no país. Vale repetir que ninguém é dono de ninguém e quem ama não mata.
Deveria vigorar uma lei punindo o empregador que paga menos à mulher que exerce a mesma função que homem?
Punir é importante. Não se trata de lei, mas de acordar um princípio.
Fonte: Gospel+
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